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CIDADES VERGONHA

ARTIGO

Por Marcos Lima Mochila (*)

17/08/2020 19h32 Atualizada há 4 anos
Por: Marcos Lima Fonte: Redação Portal Difusão Total
ARTIGO

 

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Este é o retrato do cotidiano da minha e de várias cidades do meu país

 Um teatro ao ar livre que ninguém paga para assistir

  

1º Ato 

Uma criança de 10 anos tem a vida e o nome expostos por uma extremista irresponsável, que já foi presa e tira fotos expondo armas nas mãos; que comete crime ao divulgar dados da menor, ferindo o ECA e o Código Penal; deputados e deputadas, vereadores e vereadoras, fazem aglomeração, tentam invadir um hospital, sem se incomodar com nada nem com ninguém, sem se incomodar por perturbar o silêncio e, consequentemente, o descanso de quem se recupera na unidade hospitalar; grupos católicos e evangélicos fazem confusão, com tentativas de invasão do hospital, além de ataques verbais ao médico que dirige a instituição de saúde. 

Este é o retrato de tudo que aconteceu quando uma criança - amparada pelas leis do país, que permitem que um aborto seja realizado por meio do serviço público de saúde no caso de a gravidez ser resultado de um estupro, assim como em situação de risco para mãe ou de anencefalia – sem entender direito o que se passa, quer apenas se livrar de algo que ela não escolheu. 

2º Ato

Caem as cortinas e, ao se abrirem novamente, o cenário é outro. Ruas da cidade cheias de adolescentes e crianças – algumas ainda tão novas que nem andam nem falam -, que morrem de fome e de frio, que dormem ao relento, que são estupradas e mortas. 

Esse novo cenário é mais comum nas ruas e avenidas dos bairros mais ricos, onde mora a maioria desses deputados e deputadas, vereadores e vereadoras, componentes dos grupos católicos e evangélicos. 

Eles passam em seus carrões fechados, com ar refrigerado, muitas vezes com seus motoristas particulares e, nem sequer, dão um sorriso para essas criaturas abandonadas. 

Acaba o show, o espetáculo e voltamos à realidade ‘real’: a de que esses políticos, com seus altos salários e penduricalhos, esses componentes desses grupos católicos e evangélicos que fazem toda a mise-en-scène e depois voltam para seus casarões, para suas mansões, muitas delas protegidas por seguranças. 

Onde estão essas pessoas da realidade ‘real’, diariamente, que não movem um dedo sequer em favor da proteção desses pobres abandonados nas ruas, que não separam uma parte de seus ricos salários, seus altos ganhos, para construírem abrigos para esses desvalidos, além de outros, de todas as idades – principalmente idosos -, doentes e à beira da morte? 

Nas ruas de Piedade, diariamente, perambula uma mulher, muitas vezes despida, por entre os automóveis e não apareceu ainda um desses atores para ampará-la, para leva-la a um local digno, para que seja tratada de sua loucura e seja cuidada. 

Nos sinais próximos ao Shopping Center Recife, são dezenas de crianças, muitas dessas, meninos e meninas, ainda na fase da infância, que pedem esmolas, que lavam os vidros dos carrões implorando um trocado e só têm como resposta o vidro dos carrões levantados. 

Que país é esse em que as pessoas cobram diariamente dos governos ações em prol de tudo, mas não fazem nada por ninguém? 

Que país é esse em que se briga por bilhões que devem ser distribuídos entre os partidos, para a realização de campanhas para as eleições, e nenhum desses políticos cria nenhum projeto para que parte desses bilhões sejam utilizados para se diminuir o sofrimento de uma parcela da população, muitos deles que, apesar de todo esse sofrimento, de toda essa miséria, ainda têm um título de eleitor e votam? 

Ainda bem que, no meio de tantos monstros, moradores de mansões e palacetes, que andam em carrões refrigerados e guiados pelos seus motoristas, surge de vez em quando uma voz, como a da vereadora Aline Mariano (PP), que defende a criação de uma comissão para apurar e punir os responsáveis pelo vazamento de informações acerca da criança capixaba de 10 anos que passa, por nossa cidade, carregando a sua cruz numa via crucis que ninguém sabe quando terá fim. E que fim será esse. 

A voz solitária da vereadora afirmou que "É um absurdo a exposição ao qual essa criança está sendo submetida. Além de ter sido estuprada pelo próprio tio e ter uma gravidez de risco, uma multidão vai para a frente do Cisam para fazer manifestações que não ajudam em nada. Não estão pensando na criança. Solidarizo-me também com os profissionais de saúde que foram xingados e acuados. Querem fazer política com uma questão delicada para essa menina, para a família dela e tentaram desestabilizar a administração do Cisam. Vamos formalizar a criação de uma comissão para apurar e punir os responsáveis pelo vazamento das informações acerca desse caso." 

E que outras vozes se unirão e gritarão pelas outras centenas de crianças abandonadas pelas ruas da nossa cidade que gasta milhões com campanhas publicitárias, com eleições e não dispensam o mínimo de atenção para os(as) abandonados(as), carentes, esfomeados(as), maltratados(as) e, em alguns casos, estuprados(as) que vivem, muitas vezes, nas próprias ruas e avenidas em que pedem um pão? 

Que outras vozes, e políticos, e grupos evangélicos, e católicos, e defensores da vida, se unirão para evitar que outras crianças, como essa capixaba, sejam estupradas ou morram de fome, de frio, de abandono?

Onde estarão a essas horas?

Pode ser que estejam todos orando, excomungando os pecados alheios – sem pensar nos seus próprios -, ou, quem sabe, refestelando-se em lautos jantares em suas mansões... até que surjam outra oportunidade de novamente exercerem sua arte, a arte de representar.

 

(*) Marcos Lima Mochila é redator-chefe da Revista Total, do Blog Revista Total e do Portal Difusão Brasil

1 comentário
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Grinaldo FerreiraHá 4 anos Olinda Pe.Grande Marcos Lima muito boa esta matéria grande alerta para políticos e religiosos. Meu grande abraço
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