Autor - Edgard Falcão (*)
A Páscoa é mais que um rito; é um sussurro eterno da alma à beira do infinito. Mais profunda que uma simples celebração, ela nasce no âmago das tradições hebraicas como um marco da travessia, da escravidão à liberdade, da dor à promessa, da escuridão à luz.
Em Cristo, a Páscoa ressignifica-se e atinge sua plenitude, o êxodo não é apenas geográfico ou histórico, mas existencial. Ele não apenas caminha com os homens, Ele transforma o próprio sentido do caminho. A cruz torna-se ponte, e o sepulcro, um ventre de renascimento. Assim, a celebração pascal transborda de sentido, afirma, com reverência e potência, a vitória da vida sobre a morte, da esperança sobre o desespero, do amor sobre toda ausência.
"A Páscoa não é apenas renascimento, mas também um lembrete discreto de que as maiores metamorfoses ocorrem na quietude invisível do silêncio". Foi no silêncio da tumba, longe dos olhos do mundo e do clamor dos homens, que se realizou a revolução mais sublime da história. Nenhuma testemunha, nenhum alarde, apenas a suave operação do mistério divino, movendo os alicerces da existência.
Em certas tradições antigas, a Páscoa era celebrada com silêncio e introspecção. Não havia festa, mas recolhimento, uma pausa sagrada para ouvir a própria alma. Talvez esse seja o verdadeiro convite da Páscoa: adentrar o santuário do coração, descer aos nossos abismos, e ali, encontrar a Voz que nos revela quem somos e para onde somos chamados a ir.
Conta-se, em narrativas quase esquecidas, que a Páscoa era também um tempo de perdão, não apenas de dívidas materiais, mas de pesos emocionais que escravizam a alma. Perdoar, nesse contexto, é morrer para os ciclos do ressentimento e renascer para a leveza da graça. O perdão é talvez a forma mais autêntica de reviver o êxodo pascal, pois nos liberta do passado e nos abre ao eterno agora de Deus.
A verdadeira essência da Páscoa, então, talvez esteja escondida em tradições que enxergavam o tempo não como linha, mas como espiral. A cada celebração, somos chamados novamente à travessia. A Páscoa torna-se, assim, um eterno retorno, memória viva, presente dinâmico, anúncio de um futuro em que a vida se renova incessantemente.
Em Cristo, essa espiral atinge seu ápice. Nele, o tempo encarna o eterno, e o efêmero toca o infinito. Sua ressurreição não é um evento distante, mas um acontecimento presente em cada alma que decide, em silêncio, renascer com Ele.
Páscoa nos convida a este encontro íntimo com o divino, uma jornada para dentro, um êxodo interior rumo à liberdade e à plenitude. Ela desafia-nos a perdoar, a silenciar, a renascer. Pois é na quietude do espírito que os céus se abrem, e a voz do Ressuscitado ecoa: "Eis que faço novas todas as coisas".
Cristo vive e com Ele renascemos, não uma vez, mas sempre.
"Eis que faço novas todas as coisas..." Escreveu o Apóstolo João em seu livro Apocalipse, capítulo 21 versículo 5.
Sensação
Vento
Umidade